O futebol brasileiro tem uma nova cara. Aliás, o futebol brasileiro personifica aquilo que temos de mais híbrido na cultura tupiniquim: molejo, malícia, ginga, finta e sacanagem. Tanto com os sucessivos escândalos na vida pública, a falta de cidadania das pessoas cada vez mais preocupadas com seus interesses pessoais em detrimento do bem comum, o convívio já quase harmônico com uma violência galopante e um trânsito caótico e muita sacanagem correndo solta. O time campeão da Copa do Brasil tem isso tudo reunido. O Corinthians Paulista é hoje a cara desse Brasil!
Fez duas belas finais, mas só chegou lá por causa dos sucessivos e determinantes erros de arbitragem em praticamente todas as fases. Ver um elemento desqualificado moralmente como Dentinho agredir covardemente com uma cotovelada o atacante Rafael Moura, se fingir de atingido e simplesmente ser absolvido podendo jogar todas as demais partidas da competição é prova disso. Ver um mau caráter como Cristian “Zidane” fingir se machucar, empurrado ao chão por um companheiro de time para ganhar tempo após o empate Colorado, demorar uma eternidade para sair de campo mas voltar correndo para fazer parte da grande confusão que se sucedeu é prova disso. É uma nova ordem no Brasil, a ordem da sacanagem.
O Brasil tem essa cara, essa cara de sacanagem explícita. Um Flamengo deve trilhões, mas contrata porque simplesmente seus débitos não são cobrados. Sem querer comparar o tamanho dos clubes, mas a Fiorentina decretou falência, teve que disputar as divisões inferiores na Itália até chegar na Série A porquê devedora com credores e o Fisco italiano. Um escândalo de arbitragem como o ocorrido em 2005, quando tiraram o título do Internacional e deram ao clube de Kia Joorabchian teria outro desfecho num país sério. Mas estamos no Brasil, onde o clube querido da maior emissora de TV pode tudo.
Legitimamente e tentando se proteger, já que foi alvo de erro de arbitragem na primeira partida final da Copa do Brasil, a direção do Inter divulgou um DVD com lances que mostravam claramente a ajuda do apito amigo ao time do Parque São Jorge. A grande imprensa do eixo desdenha e ainda dá destaque para o bom goleiro Felipe do time alvinegro que os chamou de “Chororado”. Difícil imaginar, mas tentem ter idéia do tamanho do destaque que seria dado e com que conotação seria dada uma notícia no sentido oposto...
Mas estamos no Brasil, onde o campeão de sua copa nacional e com vaga assegurada na Libertadores no ano de seu centenário é um clube que treina num terrão onde se tem a petulância de chamar de CT, joga no campo da Prefeitura por não ter estádio, mas mostrará este ano a qüinquagésima oitava maquete do “Fielzão” para atrair investidores e ter mais espaço na mídia, mesmo que todos saibam que sequer a pedra fundamental de um novo estádio vai ser lançada.
Mas estamos no Brasil, um país onde até no futebol o que vale é isso, é essa sacanagem, essa mentira, essa enganação. Um país de qualidade indiscutível no futebol, com uma confederação rica, mas com clubes pobres, que perde seus destaques não mais somente para grandes centros como França, Espanha e Itália e para países com mais dinheiro como Japão e os Países Árabes, mas perde jogadores titulares de seus grandes times para a periferia do leste europeu, para o futebol coreano ou mesmo para divisões inferiores de países muito menores que o nosso.
Ser sério e correto no Brasil parece não valer a pena.
ARREMATE
“Brasil, Mostra tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim”
BRASIL – Cazuza, George Israel e Nilo Romério
Texto de Juarez Villela Filho.www.furacao.com